[su_dropcap style=”simple” size=”3″]E[/su_dropcap]stamos próximos ao Natal, mas longe de abordarmos toda a mitologia de Jesus Cristo, com estrela de Belém e os reis Magos, vamos voltar mais no tempo para encontrarmos um grande festival romano: A Saturnália.
Saturnália era o nome da festividade em homenagem ao Deus Saturno que, na antiga cultura romana, se estendia de 17 a 23 de dezembro no calendário juliano, precedendo o solstício de inverno. Nesta data os romanos celebravam em homenagem a Saturno e a mítica Era de Ouro, onde, sob a regência deste Deus, a liberdade e a igualdade social entre os homens era a regra estabelecida.
Na Idade Dourada, não havia doenças ou velhice, era um período de completa harmonia em que as relações hierárquicas, a necessidade de dinheiro, poder social, práticas exploratórias e predatórias eram inexistentes. A Terra (Ops, esposa de Saturno) garantia a vida humana cedendo bondosamente seus frutos e, como o trabalho era desnecessário, a escravidão não existia. Havia abundância e igualdade.
Durante os dias da Saturnália os homens eram iguais e livres. Ricos e pobres, homens e mulheres, patrícios e estrangeiros, todos jantavam juntos e se divertiam com jogos, banquetes, trocas de presentes, músicas e orgias, encerravam-se lojas, tribunais, escolas, e os aedis permitiam a jogatina em público.
[su_quote cite= “Que ninguém tenha atividades públicas nem privadas durante as festas, salvo no que se refere aos jogos, as diversões e ao prazer. Apenas os cozinheiros e pasteleiros podem trabalhar. Que todos tenham igualdade de direitos, os escravos e os livres, os pobres e os ricos. Não se permite a ninguém enfadar-se, estar de mal humor ou fazer ameaças. Não se permitem as auditorias de contas. A ninguém se permite inspecionar ou registrar a roupa durante os dias de festas, nem depor, nem preparar discursos, nem fazer leituras públicas, exceto se são jocosos e graciosos, que produzem zombarias e entretenimentos.” ][/su_quote]
Luciano Toboso
Luciano, Saturnalia, 13 apud TOBOSO, 1996″
A Saturnália espiritualmente trazia uma correção ritualística para as discrepâncias e desequilíbrios da natureza humana e da dureza da vida em Roma. Sendo um festival tipificado como de reversão social, onde os escravos sentavam a mesa e eram servidos pelos seus senhores, durante os dias do festival.
[su_quote cite= “Enquanto isso, o chefe da família escrava, cuja responsabilidade era oferecer sacrifícios aos Penates, administrar as provisões e dirigir as atividades dos empregados domésticos, veio dizer a seu mestre que a família havia se banqueteado de acordo com o ritual anual personalizadas. Pois neste festival, em casas que mantêm o uso religioso adequado, eles primeiramente honram os escravos com um jantar preparado como se fosse para o mestre; e somente depois a mesa é posta novamente para o chefe da família. Então, o escravo chefe veio anunciar a hora do jantar e convocar os senhores para a mesa.” ][/su_quote]
Macrobius, Saturnalia 1.24.22–23 (4 ° CE) – trad. por Robert Kaster, Loeb Classical Library.
A Era de Ouro, era relembrada e festejada em cada lar romano. O feriado iniciava com um sacrifício realizado no no Templo de Saturno, no Fórum Romano, seguido de um grandioso banquete público (convivium publicum).
Um banquete especial, chamado lectisternium, no qual havia a presença das estátuas sacras dos Deuses, também era realizado.
A estátua de Saturno, que passava o ano amarrada (significando a vontade dos romanos de que Saturno nunca os abandonassem) no seu templo tinha, então, simbolicamente, os fios de lã retirados dos seus pés para representar sua libertação.
Na vida privada, aconteciam trocas de presentes, as sigillaria (também era o nome do último dia da saturnália, 23 de dezembro), pequenas figuras de terracota ou prata, velas de cera também eram presentes comuns, representando a luz na escuridão. As crianças recebiam bonecos e brinquedos e aos amigos velas e outros presentes variados, mas sempre baratos para não haver distinção de status social. Eram comuns versos acompanhando os presentes. Nenhuma guerra ou execução era permitida, a alguns presos era concedida liberdade e estes, por sua vez, depositavam suas algemas como oferendas no templo de Saturno.
Em vários locais, os romanos escolhiam um “rei”, o Saturnalicius princeps ou “líder da Saturnália”, selecionado entre os membros mais humildes de uma casa e que recebia o direito de realizar travessuras alegres. Seguia pelos dias da festividade emitindo gracejos, deboches, brincadeiras, ordens malucas e engraçadas que todos deveriam seguir
O clima era uma mistura de natal, ano novo e carnaval.
[su_quote cite= “Em quase todos os campos e cidades eles se deleitam alegremente em banquetes, e todos esperam em seus próprios servos.” ][/su_quote]
Accius, dramaturgo romano
Na Grécia antiga existia um festival equivalente denominado “Kronia”. Esta se diferenciava da Saturnália em alguns aspectos. O principal era a data do festival, que era entre final de julho e primeira parte de agosto. Tanto a Saturnália quanto a Kronia estavam ligadas a festas de colheitas. As mesmas tradições e costumes eram mantidos, inclusive a alteração na relação entre senhores e escravos, jogos, banquetes e bebidas. Deixando clara a influência grega no festival romano.
As festividades saturnais ocorriam no solstício de Inverno, data muito importante para as economias de bases agrícolas – e os Romanos eram um povo em sua maioria de agricultores, tendo a economia agrícola como meio de subsistência e fonte de renda para Roma.
Fazia parte do Pax Deorum que os homens agradassem aos Deuses e assim garantissem um inverno brando e o retorno do Sol, ressuscitado, no início da Primavera.
Saturno, nome derivado de Satus (“brotado” ou “semeado”) é o Deus da colheita (em tudo, inclusive o karma…), da semente e da semeadura (sêmen). Esposo de Ops (literalmente “riqueza”, “recursos”), a representação da terra fértil e abundante de frutos estava relacionado intimamente com a agricultura.
Pela importância das estações e solstícios para a semeadura, produção e colheita, percebe-se a associação do seu culto ao culto solar (Fato coincidentemente confirmado na Qabalah…)
A Saturnália reunia em um só período as comemorações pelo fim do ano agrário e religioso, somados também ao fim de um ano “velho” e início de outro novo, enchendo os romanos de esperanças e expectativas quanto as próximas colheitas e o ano começavam.
Em um período de poucos dias comemoravam-se:
- A Saturnália – 17 de dezembro
- A Opália (festa da Deusa Ops) – 19 de dezembro.
- Natalis Solis Invictus – 24 e 25 de dezembro
- Festa de Janus (deus dis inícios) – 1º de janeiro
“Io Saturnalia!” era a expressão de saudação para desejar as pessoas uma feliz festividade.
Para todos os Filhos de Saturno, dizemos:
Io Saturnália !!!
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