Disse Sêneca:

“Se em algum lugar, encontrares um homem destemido no perigo, impassível diante dos prazeres, feliz no infortúnio, sereno em meio a tempestade, superior ao comum dos mortais, em nível igual aos deuses… Ali reina uma Força Espiritual Divina (daemonica em grego), um espirito seletivo e privilegiado, superior a tudo que é mesquinho, que sorri diante de tudo que a multidão teme ou deseja…

Assim como os raios do Sol alcançam a terra, mas tem suas raízes no lugar de onde vêm, assim um eminente homem, como citado acima, enviado até nós para que possamos conhecer nossa divindade íntima, de fato convive conosco, mas na realidade pertence a sua pátria original e entre nós caminha como um ente superior.”

~ Seneca. 41 Epistulae morales ad Lucilium

A Obra dos Deuses

Deificação ou Divinização é o acontecimento místico, metafísico, no qual um Homem ou Mulher, após atingir à Sabedoria, ou realizar alguma ato excepcional, obtêm um nascimento entre os Deuses, tornando-se imortal.

Através do estudo da Theurgia, operamos a Obra dos Deuses, buscando incessantemente a perfeita comunhão com Eles. Para tanto o Teurgista ou Teurgo utiliza-se de técnicas cerimoniais como rituais, preces, exercícios e estudos.

Com o auxílio de espíritos, daemons e dos próprios Deuses o Teurgo utiliza magia para provocar mudanças na própria realidade, tanto interna quanto externa.

Com o tempo, e uma rotina fixa de orações, invocações e meditações, ele domina a si mesmo, une sua mente racional e emocional, consciente e inconsciente. O corpo do mago, sua personalidade e sua consciência vai se elevando e ampliando, sendo conduzido à iluminação pessoal, autorrealização e consequente apoteose (“tornar-se Divino”).

Apotheosis

Este processo pode se dá de dois modos:

Um primeiro processo no qual após se desfazer do corpo físico e denso, um novo corpo de matéria etérea, construído previamente (Phoebus) se vê livre e consciente, podendo continuar sua jornada nas esferas celestiais.

No segundo processo, mais raro, no qual seu corpo transfigura-se, elevando a vibração de cada uma de suas células à mesma frequência dos Deuses Imortais. É o alcançar da Apotheosis, onde o Mago está com suas partes totalmente integradas, sendo agora de natureza semelhança aos Numinosos e, portanto, reconhecido por eles como um igual.

Aquele que alcança este estado, não possui mais necessidade de retornar aos jogos e ilusões das Terras dos Mortais.

Atingiu sua finalidade espiritual.
Realizou a si mesmo.
Assume seu lugar entre as estrelas e constelações, passando a exercer funções de natureza superior e divina

No grego, apotheosis era a palavra utilizada ao elevar um humano.
Sendo que “apo” significa transformar, mudar, evoluir, e “theos” significa deus. Logo, apoteose tem como significado a circunstância de transformar em um deus, deificar, ou ainda, tornar em Divino.

O Culto Imperial

Em Roma, a Apotheosis era reconhecida durante os ritos funerários de um Herói, Sábio ou Grande Homem. Sendo marcada pelo voo de uma águia desde o leito fúnebre até à morada celeste dos deuses.

O Morto recebia o qualificativo de Divinus (divino). 

Até o final da República , o deus Quirino era o único que os romanos aceitavam como apoteótico, por sua identificação e sincretismo com Rômulo, fundador de Roma.

Desde Júlio César, que foi tratado como uma divindade em Roma, elevado e recebendo todas as honras em sua morte, por parte de seu sucessor Augustus, o Senado concedeu a vários sucessores o título de “Divino”.

O Divino Júlio César

[su_quote cite= “A Apoteose romana diferenciou-se como um processo pelo qual um governante falecido era reconhecido como tendo sido divino por seu sucessor, por um decreto do Senado e consentimento popular. O que não deixava escapar as ‘divinizações’ políticas, sem mérito e ridicularizadas pela alta sociedade.” ][/su_quote]

Às vezes os entes queridos falecidos do imperador também eram deificados recebendo o título Divus ou Diva (se mulheres) para seus nomes, sinalizando a sua divindade. 

A religião romana tradicional distinguia entre um Deus (original) e um Divus (deificado). Templos e colunas foram erguidos para fornecer um espaço para adoração.

[su_quote cite= “Os cultos aos heróis gregos podem ser distinguidos, por outro lado, do culto romano dos imperadores mortos , porque o herói não era considerado como tendo ascendido ao Olimpo ou se tornado um deus: ele estava sob a terra e seu poder era puramente local. Por esta razão, os cultos aos heróis foram de natureza ctônica , e seus rituais se assemelhavam mais aos de Hécate e Perséfone do que aos de Zeus e Apolo

Duas exceções eram Hércules e Asclépio, que podiam ser homenageados como deuses ou heróis, às vezes por ritos noturnos ctônicos e sacrifícios no dia seguinte.” ][/su_quote]


A Divinização no Cristianismo

A prática continua até hoje, de certo modo, na Igreja Católica e Ortodoxa com a Canonização ou Santificação de grandes expoentes da Fé Cristã.

A Canonização é um ato realizado pelo Papa, de forma solene, após cumpridos regras e rituais prescritos pela Igreja, no qual ele declara o indivíduo falecido inscrito no catálogo dos santos, concedendo-lhe culto irrestrito.

Funeral Pope John Paul II, 2005 | São joão paulo ii, Papa joao ...
Funeral do Papa João Paulo II, 2005

A teologia cristã tradicionalmente faz uma distinção entre teose e apoteose. A fé ortodoxa vê Jesus como uma deidade pré-existente que tomou existência mortal, e não como um mortal que atingiu a divindade.

Em relação aos seres humanos, a teologia mística da Igreja Ortodoxa descreve a situação como “theosis”: os seres humanos entram na vida divina da Trindade através de Jesus Cristo.

[su_quote cite= “Na teologia cristã oriental, o fim último do homem é a união com Deus ou deificação, a ‘theosis’ dos Padres, ou seja, a transformação, o estado deificado da criatura humana.” ][/su_quote]

[su_quote cite= “Tendo-se aproximado da Luz, a alma se torna luz. Tu te tornaste bela quando te aproximaste da minha Luz, aproximando-te atraíste sobre ti a participação na minha Beleza.” ][/su_quote]

~ São Gregório Nisseno


Glorificação e Ascenção

A Divinização de um ser humano é um momento final glorioso. O ponto culminante, o momento mais importante de sua existência terrena.
Sendo semelhante (mas não igual) ao Nirvana dos budistas e hinduístas.

É um estado daquele que alcançou a libertação do sofrimento, da vida material, no qual o indivíduo supera as dualidades, os sentidos, a ilusão e a ignorância que o faz se afastar do Elo Divino que sempre possuiu.

Porém, fique claro, na Divinização o Homem elevou seu nível de Consciência e Entendimento ao Plano dos Deuses. Porém não há dissolução de sua personalidade, ao contrário, ele a mantém, mas livre das imperfeições dos mortais.


“O Phoebus, o Homem Divinizado, despertou para seu Eu superior. Não é um estado de dissolução do Ego, é a elevação e purificação deste, que por se aproximar da Luz, da Perfeição e da Beleza, incandeia-se e torna-se, também, Luz Perfeita e Bela.”

~ D.R. Stuanor


Falarei mais sobre as características e semelhanças entre eles no próximo Post.

Os egípcios distinguiam duas espécies de divindades:

  • Divindades Imortais como o Sol, a Lua, os Astros, os Elementos
  • Divindades Apoteóticas, que foram uma vez mortais, isto é, os grandes homens que por suas belas escrituras mereciam honras divinas.

Aqueles que mereciam ser deificados podem ser reduzidos a sete classes:

  1. Os Artistas, poetas, músicos, cantores, escritores, atores.
  2. Os Heróis de grandes feitos
  3. Os Reis antigos de grande honra e realizações.
  4. Os Sábios que dedicaram serviço à humanidade com a invenção de alguma arte ou para suas conquistas e vitórias
  5. Os Patriarcas, antigos fundadores das cidades.
  6. Os Desbravadores que descobriram países e fundaram colônias.
  7. Os Reformadores, que modificaram e elevaram gerações inteiras

A Divinização do Homem está presente em praticamente todas as culturas do mundo. Temos sua presença nas tradições orientais e ocidentais. Na China, na Grécia, em Roma. Na cultura Bizantina e até mesmo de forma velada no Islã.

De variadas formas, esta ideia sempre acompanhou a civilização humana, a religião e a política. Sempre existiu a necessidade de exaltar e imortalizar a lembrança dos grandes Reis, Rainhas, Heróis e Realizadores do extraordinário.

Estes seres são a prova do Divino na raça humana, do seu poder realizador e da necessidade que é buscá-lo na natureza ou dentro de si.

A Societas Saturni espera poder contribuir para a evolução da raça humana. Para a elevação da sua Consciência.

Que cada Estudante e Filho de Saturno possa despertar sua Estrela e elevar-se aos Céus.

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Written by Vivian Nelese
Viviam Nelese é empresária, mãe, amiga e pesquisadora, sendo fascinada pelo estudo do desconhecido. Teve seu contato com a Tradição Romana há 20 anos. Desde então, dedica muitas horas em aprender e transmitir aos amigos o amor aos Deuses Imortais.