Saphirat Ha Omer
Algumas dúvidas e comentários a respeito da prática, e sua compatibilidade com os estudos da Societas Saturni.
[su_dropcap style=”simple” size=”3″]A[/su_dropcap] prática da contagem do Ômer é de origem judaica, e se realiza neste ano de 2020, à partir de hoje, 9 de abril, ao pôr do Sol.
O período do Ômer começa na segunda noite da Páscoa e continua durante Sete Semanas (7 X 7) até Shavuot (sete, semanas), a Festa das Colheitas.
Sua etnologia compreende duas palavras: Saphirat uma palavra hebraica que pode ser traduzida como esfera, conta, cálculo, pedra, rolo ou Safira.
E Ômer, que traduzido literalmente significa “feixe”. Refere-se à medida de grãos que era oferecida em gratidão no templo em Jerusalém.
Os 49 Portões do Entendimento
Os cabalistas usaram estes 49 dias (7 × 7) para formar permutações das Sephirot, denotando a ascensão dos 49 Portões do Entendimento, em hebraico Chamishim Shaaré Biná, que após abertos elevam o Homem da escravidão à realeza da autorealização.
O homem pode subir e se elevar sozinho, podendo então atingir até o 49º nível, o 50º é uma dádiva divina.
[su_quote cite= “Os cabalistas explicam que os 49 dias que conectam a Páscoa a Shavuot correspondem a 49 impulsos, anseios e características do coração humano” ][/su_quote]
Esses dias do Saphirat Ha Omer são a representação simbólica das 7 semanas que o povo judeu levou, após sair do Egito, país que em hebraico chama-se Mizraim (Limitação, fronteiras), até chegar aos pés da montanha na qual Moisés falou com o Senhor, recebeu suas bençãos e a função de guardar e proteger as 10 Tábuas das Leis que regem o Universo…
Todos começamos em Mizraim, presos e limitados pela nossa condição humana. Escravos do sistema ilusório que cobre o mundo material, oferecendo obstáculos e Resistência ao nosso caminhar.
O Homem comum viverá sobre essas barreiras, essas limitações, por toda sua vida.
O Filho de Saturno, por sua vez, conhecedor dos mistérios, aproveitará cada obstáculo para se projetar às alturas.
Polaridades Divinas
Lembrem-se que todo Deus possui dois aspectos, o que abençoa e o que amaldiçoa…
Saturno, em seu aspecto negro, nas oitavas inferiores e cármicas, é o Deus das limitações, das restrições, das dissoluções e das fronteiras. Sendo essa uma faceta que se abaterá sobre o Homem Comum.
Na sua face superior, Ele é o Deus da geração, colheita, abundância, riqueza, agricultura, renovação periódica e libertação.
Onde os cegos só vêem destruição e Morte, o Estudante enxerga crescimento e Vida…
Tudo muito simbólico e recheado de mistérios originais do Egito, Suméria, Caldéia e Babilônia… Mais tarde se somariam a esse corpus os mistérios gregos e romanos, e na idade média os arcanos herméticos e alquímicos.
Os Sete Aspectos
Vejam, Sete planetas, Sete Deuses que controlam os destinos humanos.
Continuando em 7 emoções básicas, 7 cofres, 7 templos, 7 maravilhas, 7 cores, 7 igrejas, 7 selos, 7 trombetas, 7 espíritos diante do trono do Senhor, 7 notas musicais, 7 círculos concêntricos, etc. Correspondem, na Qabalah, às 7 Sephiroth abaixo do abismo, portanto alcançáveis por qualquer ser humano que possua Vontade Soberana.
[su_quote cite= “Similarmente às três Sefirot intelectuais, as sete emocionais também são atributos da alma humana. Elas são as sete forcas básicas que motivam o comportamento humano e provocam, dentro de nós, uma resposta emocional. São, também, um reflexo das qualidades que D’us usa para fazer funcionar Seu Universo.” ][/su_quote]
𝘮𝘰𝘳𝘢𝘴𝘩𝘢.𝘤𝘰𝘮.𝘣𝘳
As sete emoções de cada Sephirah, Midot, são:
- CHESSED, bondade;
- GUEVURAH, severidade ou força;
- TIPHARET, harmonia;
- NETZACH, perseverança;
- HOD, empatia;
- YESOD, união;
- MALKUTH, realização.
Cada semana das Sete é representada por um aspecto místico do divino para se concentrar. E cada um dos 49 dias é uma combinação de dois aspectos da alma, e semelhantemente do Universo.
Uma montanha à subir, ao final da qual se ver Deus face a face, e se recebe dele 10 mandamentos, 10 Bençãos, 10 Sephiroth. A Colheita.
[su_quote cite= “Enquanto meditamos a cada dia, contando o ômer, estamos examinando nossas vidas e nossos próprios atributos divinos.
A ideia é que, através dessa prática, possamos ver como seguir em direção à libertação e não voltar ao que nos escravizar. Estamos nos medindo e em contagem regressiva (ou progressiva) até um momento em que podemos desafiar nossas próprias limitações, ser receptivos e nos sentir livres.” ][/su_quote]
– Alison Laichter
Centro de Meditação Judaica do Brooklyn
Saturno, o Deus das Colheitas
Oras, lembrem-se que Saturno, em Roma, era, também, o Deus das Colheitas, simbolizada pela sua Foice. E seu casamento era com Ops, a terra dativa, próspera, fértil e frutífera.
Shavuot, na Bíblia hebraica, não estava relacionado com o recebimento da Torá no Monte Sinai, como é agora. Foi em sua origem um festival agrícola.
[su_quote cite= “Nos seis meses desde Sucot até Pessach (Páscoa), o fazendeiro é escravo de sua terra. Ele deve limpar os campos de pedras, arar, semear e fornecer água sem ver os frutos de seu trabalho.
No entanto, quando chega o meio da Nissan, ocorre uma mudança dramática. O agricultor é transformado de quem semeia em lágrimas para aquele que colhe em alegria. Ele agora é o dono de sua terra e dela ganha seu pão diário.
Essa nova liberdade encontrada começa em Pessach quando a colheita da cevada começa, pois antes não se pode beneficiar do grão do ano atual.
Assim, as duas liberdades – agrícolas e históricas – andam de mãos dadas. Uma oferta de cevada (korban omer) é trazida ao templo no segundo dia de Pessach, expressando nosso reconhecimento de que é Deus quem faz as chuvas caírem e os grãos crescerem.” ][/su_quote]
http://vbm.etzion.org.il/en/agricultural-and-historical-significance-sefirat-haomer
Existem duas ofertas: A primeira, no início da contagem é de Cevada. A Segunda na Festa da colheita é de Trigo.
Cevada e Trigo tinham destinações diferentes no tempo antigo.
A Primeira servia de forragem para animais e a segunda para consumo humano e ofertas no templo. Aí se encontra mais um mistério dos simbolismos associados à data.
O Processo da Autotransformação
A Árvore da vida, em outras representações, é uma escada ou uma montanha. Cuja qual o Homem comum deve escalar, enfrentando perigos, superando a si mesmo, até encontrar seu cume.
E no Templo Sagrado que lá se encontra, passar pelo seu Guardião e ser recebido e testado pelo Mestre.
Se for aprovado beberá das fontes do seu conhecimento.
Se for reprovado, terá viajado em vão.
Será expulso por não ser digno… Ainda.
Trata-se em autêntico processo iniciático, que, se levado a sério e trabalhado com dedicação, permitirá ao Estudante se autoconhecer, mergulhar profundamente em si mesmo e encontrar sua chama sagrada.
O VITRIOL dos antigos…
“Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem”
Ela é uma prática que visa o Autorefinamento, um verdadeiro processo alquímico, que transforma o Chumbo em Ouro reluzente. Ou, nesse caso, a Cevada em Trigo.
Um Elixir que, se bem preparado e tomado nas horas e doses certas, cura todas as doenças e torna o homem imortal.
Durante as Sete Semanas Místicas, o Peregrino visa alcançar ao seu final uma transformação, uma mudança de oitavas nas emoções e consequentemente nos aspectos mentais, espirituais e energéticos do ser.
Omer é uma palavra que significa medida de grãos ou sementes. Que uma vez plantada em solo fértil frutificará inevitavelmente no futuro…
Mas, analisando-a mais atentamente, Omer era o nome de uma oferta especial, com todo um ritual de colheita, que envolvia o uso da Foice, o corte, a separação dos feixes de cereais, peneiragem e moagem dos grãos. Tudo uma forma semelhante a dos cultos à Ops.
No início de nossa busca pela Maestria, somos grosseiros e parecidos em comportamentos, desejos e objetivos com um animal. Portanto, a esse homem, pedra bruta, cabe a Cevada…
Mas, após o processo de transformação, na peneiragem, moagem, refinamento, no fogo sagrado, nos aperfeiçoamos e estamos prontos para trazer uma oferta que consiste em Trigo, alimento digno da Homem.
[su_quote cite= “No dia anterior ao festival da Páscoa, os agentes da corte saíam para o campo e amarravam a cevada em feixes enquanto ela ainda estava presa ao chão para facilitar a colheita. Na noite seguinte ao primeiro dia da Páscoa, todos os habitantes de todas as aldeias vizinhas se reuniam para que fossem colhidos com muito floreio. Eles teriam três homens colhendo três se’ah de cevada em três cestas com três foices.” ][/su_quote]
~Maimonides
Oras, pergunto, o simbolismo do número três não está ligado à Binah e consequentemente sob domínio de Saturno ?
O Filho de Saturno e o Saphirat Ha Omer
[su_quote cite= “A função da Contagem é restabelecer a união entre os vários aspectos do ser humano, unificar o propósito das diversas energias, estados mentais, sensações, intenções que percorrem a vida em toda sua amplitude.
Porque a misericórdia é frágil se não está a serviço da força e da justiça, a vitória é vã quando não se submete à restrição da forma e à paciência, a humildade sem nobreza é só vergonha, enquanto a confiança sem temor é arrogância.” ][/su_quote]
~Shlomo ben Avraham Avinu
O Filho de Saturno, após compreender os mistérios de Ops, Luna, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte e Júpiter se encontra com Saturno.
Este, com sua Foice corta 7 feixes de trigo e presenteia o Mago. Sobre sua cabeça é colocada uma Coroa de louros, em sua mão direita um cetro, sua Taça é cheia do melhor vinho, recebe Espada e Escudo, sobre seus ombros é colocado um manto azul turquesa, seus pés calçam sandálias aladas, do seu pescoço uma corrente de ouro segura uma brilhante esmeralda, e em seu dedo é colocado um anel de prata…
Caso não satisfeito, Saturno o destruirá com está mesma foice, cortará seu corpo em 7 partes e espalhará. Com seu sangue regará a terra, e com fogo queimará seus campos…
A Societas Saturni está desenvolvendo no momento todo um processo de Realização para uso de seus Associados. E os 49 dias da Saphirat Ha Omer não estão fora dele.
Sim, a consideramos uma prática benéfica ao Estudante, visto que ela permite o trabalho individual com cada Deus e suas energias.
Esse conhecimento, por necessidade de preservação, se manteve compactado na roupagem da Qabalah e confiado ao povo judeu. Mais tarde, os Hermetistas, Alquimistas, Rosa-cruzes e Maçons, iniciaram sua descompactação, ampliando-a novamente, através da associação de todas as coisas.
A prática está totalmente associada à mitologia saturnina. Colheita, foices, trigo, sete semanas, o número 49, sacrifício, limitações, escravidão, provas…
A sintonização é possível e bastante prática. Podendo ser incorporada após ser verdadeiramente compreendida.
E essa é uma tarefa que faremos aqui na Societas Saturni.
Acompanhe está série, durante os 49 dias que se seguem.
Que Saturno abençoe a cada um de vocês.
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